EM LOUVOR DE BOM JESUS
(Poema escrito no Forte São Mateus, em Cabo Frio, em 15/08/1964)
(Athos Fernandes - Miscelânea Poética - 1979)
Das praias ensolaradas e amenas de Cabo Frio, jóias do Estado do Rio, como um colar de esmeraldas, lembro as montanhas distantes e os outeiros circundantes da querida Bom Jesus, onde as estrelas brilhantes, quais vagalumes gigantes, no azul do céu dão mais luz!
Recordo o Itabapoana, que embora estreito se ufana de em nenhum desaguar. Nasce em Minas, a alterosa, a torrente caprichosa que vai da nascente ao mar!
É bela a história do rio! Outrora o índio bravio de suas águas bebeu. E a mãe d’água, a doce lára, pelas vespas que encontrara, tão lindo nome lhe deu!
Evoco a vila das rosas, Rosal de flores mimosas no alto da serrania. Berço de moças formosas, que tem perfume de rosas, quais rosas de Alexandria!
Vem logo depois Calheiros, um pouco abaixo da serra, onde outrora os cafeeiros faziam sombra na terra. Fértil solo, altivo povo, que da sede ao Arraial Novo quase todo é lavrador. Já de outras glórias referto, Calheiros nos deu Roberto, o grande Governador!
Segue-se a vila da Barra, que é rosa da mesma jarra, fruto do mesmo pomar. Ali nasceram Serôdios, que são tardios nos ódios e temporões para amar!
De um lado Pirapitinga, chamada Vargem também. No campo a semente vinga, muge o gado na restinga com toda a força que tem. Dona Iracema, na escola, severa proíbe a cola, mas ensina com amor. E o Agustinho Boechat, o chefe eterno de lá, “quebra o galho” do eleitor!
Por fim vem Carabuçu, que era Dantes Liberdade. Foi de lá que veio o Assu, a quem me liga a amizade. População operosa, dedicada e cuidadosa em tudo que pensa e faz. Ali se respiram ares que curam quaisquer pesares que a gente no peito traz!
Na várzea as duas Usinas, em meio aos canaviais. As canas, grossas ou finas, ante a força das turbinas tomam forma de cristais. De cristais açucarados, que vão, depois de ensacados, para o comércio vender.
Como é farta a Natureza, que dá conforto e riqueza a quem deseja vencer!
Bom Jesus - como me lembro! É de janeiro a dezembro o lugar melhor que há. não é em qualquer cidade que existe a hospitalidade que sempre se encontra lá!
As belas Festas de Agosto, dão cura a qualquer desgosto, ante a alegria geral. Herança do Padre Mello, que quer no altar, quer no Belo, fez-se a si mesmo imortal!
Foi poeta e jornalista, engenheiro e beletrista, o grande pároco ilhéu, que sabiamente vivia, entre o céu e a Poesia e a poesia do Céu! tanta coisa rememoro, por tantas saudades choro, que nem as sei descrever. Cale-se a Musa, portanto, já que o batismo do pranto não faz ninguém reviver!
VERSOS À ITAPERUNA I
(Poema declamado pelo autor na festa que marcou o Primeiro Encontro de Valores Itaperunenses, em 11/09/1976)
(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias, 1979)
Eu amo a minha terra e estimo a minha gente como um filho a seus pais e a seus irmãos germanos. E embora esteja longe há vinte e tantos anos, só o meu corpo partiu! A alma ficou presente!
E bem maior não há, neste mundo inclemente, (Bem por graça de Deus dado aos seres humanos) do que a glória de ter, em meio aos desenganos, em reciprocidade o afeto que se sente!
É este, - Itaperuna, - o meu maior anseio: Ser querido por ti, que me nutriste o seio, E me mim sempre encontraste a devoção e o apreço.
Ser querido por ti, que eu amo e que venero, na mesma proporção do muito que te quero, e não na proporção do pouco que mereço!
VERSOS À ITAPERUNA II
(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias, 1979)
O certo é que ninguém mais do que eu te adora, pois que és o meu lugar, o meu berço e o meu teto, onde de um lar cristão gozando o doce afeto eu era mais alegre e mais feliz que agora!
Meu céu só tinha então o resplendor da aurora! E o caminho da vida era florido e reto! Com a esperança a afagar meu coração inquieto, não via a dor que punge e a mágoa que devora.
Um dia, Deus o quis, eu te deixei, tristonho. Que te importa a razão? E porque o fiz, e o sonho com que embalei meu ser buscando outro destino?
O fato é que parti e encaneci bastante... Sou um triste que lembra a alegria distante, sou um velho que chora os tempos de menino!
VERSOS À ITAPERUNA III
(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias, 1979)
E hoje que estou aqui, tranqüilo em teu regaço, qual um peixe a nadar no lago onde nasceu, trago-te a saudação e o carinhoso abraço do menino que sou, que sem querer cresceu!...
Todo o bem que possuo, - Itaperuna, - é teu! Esta lira que empunho e esse talento escasso. E o saudável vigor que o teu leite me deu, pago-te em gratidão nos versos que te faço.
Que riquezas não tem quem te dedica às rimas; quem busca no cascalho um veio de obras primas, na bateia do Belo emprega o engenho seu.
Eis a razão por que, à falta do ouro e gemas, eu te ofereço agora estes humildes poemas: são pedras sem valor, mas o garimpo é meu!
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