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SONETO A ADRIANO CÉSAR

(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias - 1979)

Senta-te aqui, meu filho, e ouve o teu velho pai:
esta vida, querido, é duro embate, é luta
em que as regras morais não entram na disputa
e o império da ambição sempre crescendo vai.

E aqui, tal como ali, - Roma, Paris, Xangai, -
é o ouro o ditador das normas de conduta.
E entre as leis do Direito e as leis da força bruta,
quem acaso não sabe onde a razão recai?

É triste esta verdade, ó filho meu! No entanto,
quero que sejas bom e honesto como um santo,
que ames a Pátria, o humilde e protejas o só.

E assim aprenderás esta lição que prezo:
se há muito de Mamon no coração de um Creso,
há muito mais de Deus, no coração de um Jó!


SONETO À ELISÂNGELA

(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias - 1979)

As Musas convoquei dos montes do Parnaso,
para dar a você, querida, um bom soneto,
que da primeira quadra ao último terceto
fosse pleno de amor de pai, de que me abraso!

Mas eis que o estro me foge e a claudicar me atraso.
E sinto que entro mal no segundo quarteto.
Vou pedir rouxinóis ao velho Capuleto
e rosas ao jardim, crisântemos ao vaso.

Pois só o teu sorriso, ó meiga filha, é tudo!
Se do riso infantil alguém fizesse o estudo
no afã de descobrir tudo quanto traduz,

Por certo saberia este alguém, sem tardança,
que lê diz que este mundo é nada sem criança,
como um verso sem rima e a Igreja sem Jesus!


BRUNO ROGÉRIO

(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias - 1979)

Bruno Rogério Magalhães Monteiro,
é o nome todo do meu novo filho,
raio final de um sol que perde o brilho
e já se esconde por detrás do outeiro.

Que importa que ele seja o derradeiro?
O que importa é que siga honesto trilho,
que colha a espiga onde plantou seu milho,
que regue a flor nascida em seu canteiro.

Que seja puro e nobre. E ame a Virtude!
E à sua mãe dê tudo o que eu não pude
de bens terrenos dar, porque não os tinha...

Que preste culto a Deus e à Liberdade!
Que seja um bom no ardor da mocidade,
qual tento eu ser nesta velhice minha!


MATER

(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias - 1979)

Faz muito tempo já! Era no outono...
Folhas soltas levadas pelo vento...
Em nossa casa o luto, o desalento,
o vazio do tédio e do abandono!

Foi quando, ó mãe! Ao derradeiro sono
levou-te a morte, em meio ao sofrimento.
Mas ficaste vivendo em pensamento,
e em nossos corações, como num trono.

Que importa o tempo transcorrido? Importa
é que a mãe viva, mesmo estando morta,
pois vai além da morte o seu dulçor.

Santo nome imortal que nos encanta!...
Quer viva ou morta, a mãe é sempre santa,
- na santificação do seu amor.