DEUS E O HOMEM
(Athos Fernandes - Ofir - 1977)
Do nada Deus fez Tudo a Seu critério e jeito: o céu, a terra, o mar, o rio, a várzea, o monte, as serras colossais que azulam no horizonte, tudo fez o Senhor e viu que era perfeito!
Veio o homem, porém, e em tudo achou defeito. Fez o muro e o curral; cercou o pasto e a fonte; pôs esquadras no mar e sobre o rio a ponte, e fez do egoísmo lei, da força fez Direito.
A marca de Caím foi-lhe estampada à testa. Ventura já não tem, de Deus pouco lhe resta, perdido das paixões no báratro profundo...
Pelas leis naturais é de ninguém a terra! Um só dia de paz vale as glórias da guerra, um minuto de amor cura os ódios do mundo!
VERSOS A UM POETA
(Athos Fernandes - Ofir - 1977)
Sufoca a tua dor! Cala o teu desalento e mostra-te feliz, sem que no entanto o sejas. Que não saibam, jamais, das íntimas pelejas que te fazem perder todo o contentamento!
O que importa é sorrir em meio ao sofrimento, levando o bom humor por onde quer que estejas. Quanto gente, afinal, sem ter o que desejas vive alegre e feliz como palmeira ao vento!
Deixa a vida correr sem mágoas e pesares, como o altivo condor que desafia os ares e fende o espaço azul das celestes planuras...
Como poeta és rei de um reino de magias! Transforma, pois, em riso as tuas agonias e em poemas de amor as tuas desventuras!
ENTRE O CÉU E O INFERNO
(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias - 1979)
Já era o mundo mau antes do cataclismo oriundo do Céu, que destruiu Sodoma... Veio a Assíria depois - a fera que ninguém doma- entre os homens e Deus mais alargando o abismo!
Na Grécia de Platão, a cicuta e ostracismo. A pompa imperial dos Césares de Roma. Entre Meca e Medina o alfange da Mafoma, e as mil perseguições contra o Cristianismo.
Sempre o ódio e o terror, a vilania, o crime! E o ouro que abastarda, e miséria que oprime, tudo em nome do Bem, pela glória do Eterno...
E assim os homens vão sobre a face da Terra, entre os hinos da Paz e os tambores da Guerra, de olhos fitos no Céu, a caminho do inferno!
DORES
(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias - 1979)
Por mais que eu descreva a dor que sinto, jamais a entenderás corretamente, pois cada ser humano é um ser distinto e só quem sofre sabe a dor que sente!
Por força natural do próprio instinto, que desde a madre rege o ser vivente, da dor que te doer me não ressinto, nem tu, também, da dor que me atormente!
Isto, afinal, é muito humano e justo. Ninguém dos nossos bens concorre ao custo, nem do mal que sofremos se arreceia...
Pois no egoísmo própria a toda gente, por pequena que seja a dor que sente sempre a julga maior que a dor alheia!
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