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Cândido Portinari - DescobertaCândido Portinari - Descoberta

 
CONFITEOR

(Athos Fernandes - Ofir - 1977)

Sinto que não sou mau, nem tampouco sou bom.
Sou o que posso ser, igual aos homens todos.
Na ribalta da vida, entre aplausos e ápodos,
canto salmos a Deus e salvos a Mamon!

Como o lírio que exsurge alvo e puro de lodos,
de eco simples que fui, tento chegar a som.
Sou um tanto Marat e outro tanto Danton,
um misto de Platão com vândalos e godos!

Não sou bom nem sou mau. Sou apenas humano.
Entre o instinto e o ideal, o sagrado e o profano,
minhalma conturbada e atônita, vacila...

Por sentir que, afinal, em síntese perfeita,
para o Céu, que desejo, a porta é muito estreita,
para o Inferno, que temo, é muito longa a fila!

O MUNDO E EU

(Athos Fernandes - Ofir - 1977)

Fui sempre triste assim! Mas não por mim, por tudo
qe de triste e de mau no mundo tenho visto.
Nos meus dramas pessoais quase sempre sou mudo,
mas vendo a alheia dor, calado não resisto!

Tal como um cavaleiro andante, sem o escudo,
de Quixote e de Sancho eu sou talvez um misto.
Da humana incompreensão suporto o golpe agudo,
e por amor ao Bem sou soldado de Cristo!

Detesto a prepotência e abomino a injustiça!
E embora crente em deus, mas faltoso na missa,
meu pobre coração, a fé defende...

Entre as mágoas que sofro e o alheio sacrifício,
se calo a minha dor, aumento o meu suplício,
se falo do que sinto, o mundo não me entende!

VERSOS E ESTRELAS

(Athos Fernandes - Ofir - 1977)

Há no murmúrio humilde de um regato,
ou na fúria do mar que se escapela,
a mesma força poderosa e bela
que vibra exata, num sentido exato!

É da divina essência um substrato
Tudo o que a natureza nos revela.
Da rosa de Istambul à flor singela,
desde o condor ao sabiá do mato!

Do Eterno Ser tudo provém e emana.
Da pedra bruta à inteligência humana
tão só quem as criou pode entende-las.

Pois sendo Deus o Artista do Universo,
bem mais depressa do que escrevo um verso
compõe, no céu, Lusíadas de estrelas!

A SÍNTESE DA VIDA

(Athos Fernandes - Ofir - 1977)

Nascer, sofrer, morrer, - eis a vida em resumo!
O mais é sonho vão e esperança falida,
ilusão que se esvai, como se esvai o fumo,
como as juras de amor de uma mulher perdida!

O que importa é viver, mantendo a alma a prumo,
nos dias de ascensão, na fase de descida.
Nascer, sofrer, morrer, - eis da existência o rumo,
e a síntese fatal da misérias da vida!

Feliz é quem, no afã de galgar o Infinito,
liberto Prometeu do Cáucaso maldito,
busca apoio na fé e abrigo na Esperança.

E feliz também é quem nada mais espera,
mas que, no apego ao Bem, insiste e persevera
em sempre desejar o que nunca se alcança!