Sua versão do navegador está desatualizado. Recomendamos que você atualize seu navegador para uma versão mais recente.

TRÊS SONETOS DE AMOR
I

(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias - 1979)

Chegaste em minha vida em hora amarga,
quando o estio se fora ao vir do inverno,
e a minha estrela, peregrina e pura,
por meu mal deixará o céu vazio!

Chegaste à minha vida quando as flores
murchas jaziam pelo chão nevado,
quando os meus lábios, trêmulos, cantavam
o cantochão dos tristes misereres.

Chegaste à minha vida solitária,
quando se fora a última esperança
no adeus final do derradeiro porto.

Chegaste à minha vida e a iluminaste
com teu sorriso de trigal maduro,
com teu olhar de estrela matutina!

TRÊS SONETOS DE AMOR
II

(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias - 1979)

Chegaste e me disseste: - “eis que te trago
uma esperança nova à tua vida.
Serás o meu Booz e eu serei Ruth,
farta será de amor nossa colheita!

Venho da Shangri-La dos teus sonhares,
da terra da perpétua juventude.
O sangue quente que me aquece as veias
duplicará os grãos da tua eira.

Serei a tua Agar. E nova estirpe
há de nascer do nosso amor fecundo,
num consórcio de outono e primavera.

Serei tua Vestal, esposa e amante.
Mantendo deste amor acesa a pira,
com nardo e mirra incensarei teus deuses!”

TRÊS SONETOS DE AMOR
III

(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias - 1979)

Assim disseste e assim ficaste. E agora,
que o estio retornou, passado o inverno,
já estão voltando as musas forasteiras
que me haviam deixado o lar vazio.

Cresce a colheita em grãos centuplicados!
Já preparo o lagar para a vindima.
Os deuses lares já tem mirra e incenso.
Arde a pira no altar. Volta a alegria!

É o milagre do Amor ressuscitado!
É a esperança que chega e toma ssento,
que se hospeda comigo, e janta e fica.

Não mais entoarei canções de outono,
que a primavera esplende em teu sorriso,
e há fartura de espigas na seara!...

SAUDADE

(Athos Fernandes - Miscelânea Poética - 1979)

Saudade: olhar perdido no horizonte,
mirando as nuvens que depressa vão.
Saudade: uma casinha ao pé da fonte,
cheia de sonhos e de solidão!

Saudade, cruz plantada lá no monte,
onde alguém dorme na eternal mansão.
Saudade: bela e invisível ponte
que liga coração a coração!

Saudade! Ave Maria da Esperança!
Crepúsculo do Amor! Alma de criança,
que castigada ainda deseja bem...

Saudade é dor que só traduz quem sente,
porque a saudade é o coração da gente
já misturado ao coração de alguém.

NOSSA ESTRADA

(Athos Fernandes - Miscelânea Poética - 1979)

Olha querida: a nossa linda estrada
está cheia de flores e de espinhos.
E se agora é tristonha e desolada,
logo ouvirás a voz dos passarinhos!

Creio, querida, que na caminhada
teremos paz, pois vamos bem juntinhos,
desafiando o mal que, de emboscada,
espreita o viandante nos caminhos.

Mas se um dia, querida, de repente,
a montanha da Dor surgir na frente,
não vás esmorecer ante os escolhos.

Pois quem da vida a incerta estrada corta,
se quer vencer, caminha e pouco importa
se encontra folhes ou se encontra abrolhos!

TERCETOS

(Athos Fernandes - Miscelânea Poética - 1979)

Amor! Linda canção que a humanidade canta!
Prece que enleva o mundo esplendorosamente.
Amor! Felicidade e juventude em flor!

És como a brisa suave, a nos soprar dolente,
O vento brando, brando, a natureza santa,
No céu, no mar, na terra, estás também, Amor!

És como a garça voando em pleno azul do céu.
És como a luz do sol pela manhã formosa.
És fúria do tufão no peito apaixonado!

Nos lábios de quem ama és suculento mel.
Perfume divinal como desprende a rosa,
Enlevo do presente e sonho do passado.

Amor! Tu és o Deus e és a própria vida!
Pecado, redenção, ventura, riso e pranto,
Gemer de lira pobre, apaixonada e lenta.

És quimera, sonhar, loucura refletida.
Inferno de paixões, a transbordar encanto,
Sublime Satanás que nos oscula e tenta!