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Claude MonetClaude Monet

 

SEMPRE O AMOR


(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias - 1979)

Nunca é demais o amor! Nunca é perdido
o mais ínfimo sonho que sonhamos.
Amemos hoje e amando envelheçamos,
que muito amar é muito ter vivido.

Toda a glória do amor é ser sentido
sem sacrifício algum de alguém que amamos.
E glória ainda maior quando choramos,
porque chorar de amor é ter sorrido. 

Amor!...Sublime e lúcida loucura!
Tão forte é a sua trama, o seu poder,
de aço que fere e bálsamo que cura.

De tal modo atormenta e dá prazer,
que às vezes na tristeza traz ventura
e às vezes na alegria faz sofrer!

A LEI DO AMOR

(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias - 1979)

Por ser o Amor a lei da espécie humana,
somente às leis da espécie ele obedece,
pois sendo um deus, atende à própria prece
E, se às vezes redime, - às vezes dana!

Tal qual a rosa de Sharon floresce
na primavera, a mocidade ufana.
É como um vinho bom, que não engana,
embriaga melhor quando envelhece.

O Amor, já disse alguém, de amor se paga.
Se fere, cura; e quando agride, afaga,
seiva que nutre e combustão que inflama.

E assim se vê que pela vida afora,
se muito pode a dor, para quem chora,
mil vezes pode o Amor, para quem ama!

NOSSA HISTÓRIA DE AMOR

(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias - 1979)

Nossa história de amor nasceu do acaso,
ou quem sabe talvez de algo divino?
Um sorriso, um olhar, um breve aceno
e a fênix morta ressurgiu das cinzas.

Foi como se o outono e a primavera
num encontro fortuito, em pleno estio,
entre roseiras e canções de ninhos,
viessem percorrer a mesma estrada.

Eu era o outono em véspera de inverno.
Você, a primavera aberta em flores,
entre nós dois o mundo, o tempo e o espaço.

Venceu, no entanto, o amor. Como detê-lo?
Como impedir que o sol sazone o fruto
quando é própria a estação para a colheita?


VERSOS DE AMOR

(Athos Fernandes - Miscelânea Poética - 1979)

Versos de amor...quantos não há, querida?
Por que motivos, pois, devo escrevê-los?
Se estou junto de ti, não sinto zelos,
e longe estando, que me importa a vida?

O amor é fruta rara e apetecida
que exige trato e que requer desvelos.
Meus minutos de amor quero vivê-los
sem cogitar da hora da partida!

Deixa-me, pois, dormir no teu regaço!
Cada carícia é um hino à tua graça,
e que cada beijo um verso que te faço!

Quero-te assim, e assim, sei que me queres!
Não há ser mais feliz na humana raça,
nem mulher mais amada entre as mulheres!


VELHA MUSA

(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias - 1979)

A minha velha Musa enamorada,
que comigo habitou por muitos anos,
de tanto partilhar meus desenganos
ficou também por mim desenganada.

E abandonou de vez a minha amada;
onde à custa de esforços sobre-humanos,
em pobres versos não camoneanos,
do amor eu canto a última balada...

Se alguém a vir, não a maltrate nunca,
pois a coitada as próprias mágoas trunca,
como truncou meus versos tantos vezes...

Velha e caduca, ainda a quero,
pois que o amor mais velho é mais sincero,
unindo as almas como irmãos siameses!

A GÊNESE DO AMOR

(Athos Fernandes - Shangri-La Poesias, 1979)


Quando o homem surgiu do pó da terra
lhe disse Jeová:
- “ Eis que Eu te dou o rio, o vale, a serra,
tudo só teu será!

- Mas hás de respeitar a minha lei
e serás imortal.
Contigo eternamente habitarei,
se fugires do Mal.

- Comerás livremente desses frutos
do teu vasto pomar.
E hás de reinar sobre os seres mais brutos,
pelo dom de pensar! “

...................................................................................................

E o homem pensou! E viu que estava só
em meio ao Paraíso.
E ao Senhor implorou que desse ao pó
a graça de um sorriso.

Surgiu Eva, por fim, ante os teus olhos,
tão linda como uma flor,
trazendo em si, nos íntimos refolhos,
a semente do Amor.

Como quem diz amor já é diz pecado,
pecou o casto Adão.
E o mundo inteiro vive atormentado
e cheio desde então.

Erro fatal da Gênese do Amor!
Com essências e arminhos,
deu perfume e beleza àquela flor,
mas deixou os espinhos!